quarta-feira, 25 de abril de 2012

SÉ CATEDRAL - BRAGA PORTUGAL

Segundo a tradição, a diocese bracarense foi criada no século III; mas a História só a confirma a partir do ano de 400. O actual edifício está implantado sobre uma outra construção religiosa que, possivelmente, foi a anterior catedral. Foi com o bispo D. Pedro (1070-1093) que se iniciou a obra da actual Sé. Depois dele quase todos os seus sucessores quiseram deixar a sua marca, fosse em pequenas alterações ou em obras de vulto. O Cabido, a quem pertencia o governo da Catedral, também imitou os arcebispos nos períodos em que se verificou Sé vacante. É por essa razão que do primitivo edifício pouco mais nos resta do que a implantação e o projecto geral, além de alguns curiosos pormenores decorativos, como as duas arquivoltas da primitiva porta principal românica, lavrados com cenas da gesta medieval da Canção da Raposa. Apresentando duas torres na fachada, o que a aproxima das grandes catedrais do românico português, foi, com o correr dos séculos, muito modificada: uma galilé de finais do século xv, fechada no século xviii pela belíssima grade de ferro que o arcebispo D. Diogo de Sousa (1505-1532) fizera para proteger a capela-mor; e, ainda na frontaria, a grande pedra de armas do arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles (1704-1728), a edícula e o coroamento das torres, colocados no primeiro quartel de Setecentos. O interior, de três naves, transepto e cabeceira com cinco capelas, é profundamente austero. No período barroco abriram-se grandes janelas, transformaram-se os altares, cobriram-se de estuques e pinturas todas as paredes; a Sé tornou-se uma festa, um apelo aos sentidos. E assim se manteve até meados do século xx quando as obras realizadas pela Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, nas décadas de 30 e 50, restituíram o suposto prospecto medieval do templo, segundo os critérios de restauro então em voga. Excepto a capela-mor, todas as capelas da cabeceira mantiveram as alterações de arquitectura e retábulos que tinham recebido no século xviii. No subsolo da capela-mor conservam-se ainda vestígios arqueológicos do primitivo templo paleocristão e altomedieval. Em 1509, D. Diogo de Sousa patrocinou a construção de uma nova cabeceira, traçada pelo arquitecto João de Castilho, que ali deixou um original testemunho da arquitectura do tardo-gótico nacional, bem visível na sua belíssima abóbada de combados. Ao arcebispo ficou igualmente a dever-se um perdido retábulo de pedra e o frontal do altar, tendo sabido conservar a magnífica imagem francesa de Santa Maria de Braga, do século xiv. O desenho das Capelas do transepto foi influenciado pelo da sacristia, tendo sido, todas elas, alteradas nos inícios do século xviii pelo mestre pedreiro Manuel Fernandes da Silva. Deve salientar-se o revestimento azulejar da capela de São Pedro de Rates, pintado em 1715 por António de Oliveira Bernardes, com representações de cenas da vida do santo, e a finíssima talha neoclássica da Capela do Santíssimo Sacramento, bem como o seu magnífico frontal, entalhado em 1718 pelo mestre Miguel Coelho e inspirado num quadro de Rubens, o Triunfo da Igreja. A sacristia, riscada pelo arquitecto régio João Antunes, em 1698, foi executada pelos pedreiros Pascoal Fernandes e seu filho Manuel Fernandes da Silva. A sua arquitectura foi de uma intensa novidade para a Braga daquele tempo, mas a cidade não soube continuar nessa senda, voltando facilmente para os velhos valores maneiristas. No coro alto o cadeiral e os órgãos, de talha dourada, são obras excepcionais de concepção e execução. O cadeiral (1737) é devido ao entalhador e arquitecto portuense Miguel Francisco da Silva. As caixas dos dois órgãos (1737-1739) foram entalhadas e esculpidas por Marceliano de Araújo numa incrível profusão dos elementos mais característicos da talha joanina, abundando as figuras esculturadas, sátiros e golfinhos. A parte mecânica ficou a dever-se ao mestre organeiro galego Frei Simão Fontanes. Todo o conjunto é dominado pelos Esponsais da Virgem, composição fresquista pintada na mesma campanha de obras por Manuel Furtado de Mendonça. O claustro data dos inícios do século xix; está no lugar de um outro, gótico, que ameaçava ruína em finais de Setecentos. Estabelece ligação com o Tesouro da Sé e com as Capelas de D. Lourenço Vicente, do nome do arcebispo que a reconstruiu – também conhecida por Capela dos Reis – e de Nossa Senhora da Piedade. Na primeira, de estilo gótico, além do túmulo do arcebispo, guardam-se os túmulos dos condes D. Henrique e D. Teresa. Na Capela de Nossa Senhora da Piedade, fundada por D. Diogo de Sousa em 1513, guarda-se o túmulo do prelado, obra de artista coimbrão desconhecido, talvez o mesmo que lavrou os túmulos dos pais de D. Afonso Henriques, dispostos na capela anterior. A imagem original da Senhora do Leite, obra de outro artista coimbrão, o desconhecido Mestre dos Túmulos Reais, está agora aqui recolhida. E merecem ainda atenção alguns dos retábulos, como o de Nossa Senhora da Boa Memória, em estilo rococó. Junto à porta lateral que dá para a Rua do Souto localiza-se o Claustro de Santo Amaro, onde subsiste um absidíolo, talvez pertencente ao projecto original da Sé, cuja abóbada está coberta por uma pintura dos finais do século xv. Outras duas capelas, de implantação autónoma, fazem ainda parte do conjunto monumental. A Capela de São Geraldo foi inicialmente construída no século xii. Sofreu as mais variadas alterações, sobretudo no período barroco, tendo sido a sua fachada totalmente refeita durante a grande campanha de restauro dos anos 40. O espaço interior, remodelado pelo arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, que aqui colocou o seu túmulo, tem as paredes recobertas de azulejos, atribuíveis a António de Oliveira Bernardes. A Capela da Glória é obra do arcebispo D. Gonçalo Pereira (1236-1248). As paredes laterais ostentam uma decoração geométrica organizada em enormes quadrados, sem dúvida um dos mais antigos testemunhos de pintura a fresco subsistentes entre nós. O túmulo do arcebispo, aqui colocado, foi contratado, em 1334, pelo coimbrão Mestre Pero e pelo lisboeta Telo Garcia. Ao lado da Catedral, com acesso a partir do claustro, encontra-se o Tesouro da Sé, criado em 25 de Março de 1930, o qual recolhe múltiplas peças reunidas ao longo dos tempos. * Conteúdo amavelmente cedido pelo IPPAR Sacristia, obra do arquitecto João Antunes (1698)
Capela-mor. Diogo de Castilho (1509)
Nave principal
Pia baptismal
Retábulo relicário e armários amitiários
Orgão, talha de Marceliano de Araújo (1737-1739)
Cadeiral, talha de Miguel Francisco da Silva (1737)
Pormenor do cadeiral
Túmulo do Infante D. Afonso, séc. xv
Capela da Glória, túmulo de D. Gonçalo Pereira, séc. xiv
O Tesouro-Museu da Sé de Braga O Tesouro-Museu da Sé de Braga encerra um espólio de inestimável valor, com peças que cobrem um período de mil e quinhentos anos e que, em muitos casos, sintetizam a vida cristã dinamizada a partir da Catedral. A fundação do Tesouro-Museu da Sé de Braga data de 1930 e resulta da vontade do Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos que tudo fez junto do Governo de então para a criação de um Museu de Arte Sacra. Criado deste modo o hoje designado Tesouro-Museu da Sé de Braga, está desde a sua fundação instalado na antiga Casa do Cabido. Esta casa anexa à Catedral foi mandada construir, no século XVIII, pelo Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles. As instalações foram ampliadas, durante os anos 2003 a 2007, a cinco casas contíguas. As obras de ampliação e remodelação de todo o espaço foram inauguradas a 30 de Março de 2007. Situado no centro histórico da cidade de Braga, o Tesouro-Museu ocupa cerca de 1482 m2 de salas de exposição, reservas, serviços educativos, serviços administrativos, acessibilidades e Loja do Tesouro. A Exposição Permanente, que tem por título Raízes de Eternidade: Jesus Cristo – Uma Igreja, oferece a possibilidade de re-visitar a vida de Jesus Cristo (Anunciação, Natividade, Infância, Transição, Paixão e Morte, Mistérios Gloriosos) e a história da Igreja em Braga, contada tomando como referência alguns arcebispos, desde o século V até ao século XX. Esta história é complementada com os núcleos de paramentaria e ourivesaria. Além da Exposição Permanente (Percurso 1), o visitante pode ainda optar por outros três percursos: Capelas e Coro Alto (Percurso 2), Torres (Percurso 3) e Visita Guiada à Sé (Percurso 4). Director: Cón. Doutor Pio G. Alves de Sousa Director Adjunto: Cónego António da Silva Macedo Cabido O Cabido Metropolitano e Primacial Bracarense, criado pelo bispo D. Pedro em 1071, é uma corporação de sacerdotes que exerce, no âmbito da Arquidiocese de Braga, os serviços eclesiais que lhe são atribuídos pelo Código de Direito Canónico (CDC) ou cometidos pelo Prelado Diocesano. Sendo, por natureza jurídica, um órgão consultivo, desempenha, em especial, as funções atribuídas pelo cânone 502 §3 do CDC ao Colégio de Consultores. Na Catedral tem, igualmente, funções litúrgicas e zela pela sua conservação e pelo seu património. Promove, também, iniciativas que visam a evangelização da cultura e pela cultura. Culto A Sé de Braga é, simultaneamente, meta turística, procurada pela sua história e valor artístico, e lugar vivo de culto. Têm lugar aqui as principais celebrações do calendário litúrgico presididas pelo Arcebispo Primaz, com a participação do Cabido. O culto diário e dominical, da responsabilidade do Cabido e da Paróquia da Sé, é frequentado por cristãos que extravasam, geograficamente, a normal área de influência de uma qualquer igreja. A Catedral e os espaços de culto adjacentes são também pólo de atracção para uma alargada gama de manifestações de religiosidade popular. Considerada como um centro de irradiação episcopal e um dos mais importantes templos do românico português, a sua história melhor documentada, remonta à obra do primeiro bispo, D. Pedro de Braga, correspondendo à restauração da Sé episcopal em 1070, de que se conservam poucos vestígios.

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