terça-feira, 17 de abril de 2012
Braga Romana! Negação da Origem vol.III
Mais do que uma vez se falou aqui da herética bajulação que a cidade de Braga faz à cultura Romana.
Em vésperas de mais uma edição da "Braga Romana", OGalaico, como modestíssimo veiculo comunicativo, não pode deixar de demonstrar a aberração que o evento acaba por ser.
Talvez pensem que termos como "herético, bajulação e aberração" são fortes demais e exagerados porém, a minha opinião, é que não existe na língua "Lusa" (que é, na verdade, Galaica) adjectivo capaz de qualificar na integra tamanha mentira. Por mentira refiro-me especificamente à mensagem que acaba por ser passada para os Bracarenses e a todos quanto se exponham a esta compilação de displicências históricas. De facto, quem sai da feira que começa no próximo dia 28 de Maio, sai convencido de que Braga era uma cidade Romana e a que a estes se deve a própria fundação da "Capital do Minho".
Convêm por isso derrubar alguns dogmas acerca desta suposta romanização que trousse a luz aos povos Castrejos que, até aí não passavam de bárbaros animais selvagens perdidos nas trevas da ignorãncia.
- Diz-se que os Romanos fundaram Braga mas sabe-se que já lá existiam povoados. Prova-se este argumento na própria estação de comboios da cidade dos Arcebispos, onde jaz um balneário tipicamente Galaico (Os ignorantes, apesar de estar explicito no local, continuam a dizer que é Romano. Isso demonstra bem a confusão que vai na cabeça dos Bracarenses). Além do mais, se os Romanos aí se estabeleceram foi para controlar os imensos pólos Castrejos Brácaros que sempre atormentavam as legiões com ameaças de revoltas. Assim, se a urbe cresceu com influência Romana foi antes de tudo devido à existência de um forte contingente indígena insubordinado nas imediações.
- Durante a feira podem ser avistados inúmeros "romanos" a vaguear pelas ruas da cidade. A realidade era no entanto bastante diferente pois os poucos verdadeiros Romanos que aqui estavam seriam chefes de legiões, centuriões ou membros de autoridade que exerciam as suas funções politico-administrativas. Os tropas, estes, de certeza que andavam fardados mas ainda mais certo é o facto de não serem Romanos. Os topónimos locais acabados por "mil" como Vermil ou Creixomil tem relação com a forma latinizada de "Militar". Ou seja, eram locais onde se recrutavam (ou obrigavam) números para as forças armadas. Em todo o império e, isso é ponto assente, as tropas eram sempre compostas em larga maioria por homens oriundos dos povos conquistados. Na verdade, Romanos em Braga haveria-os muito poucos e, os que houvessem, não casavam com bárbaros. Cai assim o idiota pressuposto dos Bracarenses serem descendentes da península Itálica.
- Os festejos que se verificam, aos olhos de quem tem ponta de inteligência, são no mínimo infames. Uma civilização autóctone ruiu, milhares foram chacinados e o próprio Estrabão fala das mulheres Brácaras lutando até a morte ao lado dos homens, matando os próprios filhos, suicidando-se em seguida, para não caírem em mãos profanas. O facto de hoje se glorificar de forma tão inocente (adjectivo aplicado no sentido referente á estupidez) os invasores causa-me cólicas. Não basta a recuperação de todo e qualquer calhau Romano, sejam quais forem os custos ou os prejuízos para o desenvolvimento da cidade (em detrimento das ruínas Castrejas, tema já abundantemente abordado), mas é preciso submergir os nossos cidadãos em valores devassos, que trocam o orgulho que deveríamos ter pelos nossos antepassados, por uma ingrata e falsa pertença a um povo que nos matou, sangrou e sugou.
Falemos agora dos enormes benefícios que os Romanos trouxeram com eles e que permitiram enfim uma vida digna aos Castrejos Galaicos. Diz-se assim que eles fizeram chegar até nós as estradas. Já que falamos aqui em barbáries, esta ideia não o é menos. Como é que um povo que se baseava em trocas comerciais por ausência de capitais efectivas se poderia gerir sem estradas? O que os Romanos fizeram foi sim destruir as existentes e criar as deles para que pudessem controlar melhor toda e qualquer actividade e, claro, cobrar impostos pela sua utilização. Aquedutos? Os Castrejos não os tinham porque não precisavam deles. Água, no Noroeste Ibérico é o que mais há e a vida nos cimos dos montes em aglomerados restritos não necessitava de engenhos destes para nada. Finalmente, dizer que os Galaicos, capazes de fazer previsões e cálculos astronómicos, cultivarem com mestria artes como a fundição dos metais entre outras coisas, eram tudo menos estúpidos. Estúpidos são os que olham para os Romanos e acreditam piamente nas versões do nosso sistema educativo que, fazem deles os portadores da luz e os libertadores dos homens.
- Tradicionalmente vê-se os Romanos como seres culturalmente superiores. Pois bem, se ponderarmos um pouco acerca de características tão típicas deles como atípicas nossas concluímos que lupanares (casas de prostituição), homosexualidade e lesbianismo aceites e valorizados, machismo total que encerrava as mulheres (ao contrário do nosso povo atlântico que as venerava), desrespeito pelos mais velhos (eram para os Castrejos valiosíssimos) etc. nada tem a ver connosco. Não entendo por isso esta tentativa, não sei se consciente ou inconsciente mas sempre parva, de fazer dos Bracarenses sósias deste povo socialmente atrasado. Aliás, caso soubessem minimamente quais os valores de um Romanos dos tempos clássicos, não haveria um Bracarense a querer ser identificado como "Guerreiro do Minho".
Ainda no âmbito do impacto cultural, OGalaico muitas vezes se refere a epigrafia como a prova de que os Romanos foram aculturizados mais do que influenciaram aspectos importantes como os religiosos. Os Deuses originais permaneceram vivos o que demonstra que não houve alienação ou lobotomia cultural. E verdade que os Galaicos alteraram o seu modo de vida mas, também não nos esqueçamos que os Castros permaneceram habitados durante séculos pela romanização dentro e não foi ela que acabou com o modo de vida autóctone. Além do mais, imensos habitantes das cidades nasciam nos Castros e mais tarde empregavam-se nas quintas e ofícios da nova urbe. Isso fazia a cidade ser profundamente Galaica e não Romana.
Poderia citar intermináveis situações que reforçariam a minha posição mas a partir de certo momento essa persistência apenas realçaria uma falsa ideia de obsessão e potenciaria o aborrecimento dos leitores.
A Romanização, não entendam mal, aconteceu e teve impactos profundos. Mas nunca fez dos Bracarenses Romanos nem, nos alterou a alma. O modo de vida mudou para alguns e para outros nem por isso. Mantivemos os mesmos Deuses e, durante muito tempo, a mesma língua que foi sendo mutilada com o passar dos séculos. Talvez até bem mais lentamente do que a globalização de hoje o faz. A escrita foi a inovação mais preciosa e marcante que os Itálicos acabaram por trazer mas, mais uma vez, não é por a internet ter chegado a Portugal que deixamos de ser Portugueses.
Faça-se no entanto a feira Romana. Quantos mais eventos houverem nos nossos abandonados centros históricos melhor. Pena no entanto que, neste caso, a mensagem seja completamente falsa e que subjugue uma herança cultural milenar ao marketing de querer vender uma cidade sob uma marca que não nos pertence. Venda-se igualmente a nossa inteligência e a honra do nosso povo pois, estas apenas nos trazem as complicadas amarras da coerência. Faça-se do mundo inteiro Romano, Católico e Apostólico para que assim deixemos de nos matar por causa da diferença e comecemos a fazê-lo pelo tédio das existências inócuas.
Poderiam recriar com justeza a luta territorial que de facto ocorrera, podiam fazer uma feira que mostrasse a verdadeira situação da época onde a cultura Atlãntica e Mediterrânica se defrontava como autóctones e invasores. Mas não o fazem. Preferem dispor nas ruas barracas Romanas com outras de bruxarias medievais e até mouriscas, numa amalgama de eras e civilizações que não lembraria à mais elaborada salada russa.
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